Por Marisa Bussacos,
coach e aconselhadora biográfica associada EcoSocial
“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino”. Carl Jung
“Quantos anos você tem?”
Uma pergunta que soa um tanto quanto invasiva e indelicada nos dias atuais, mas que pode ser a principal porta de entrada para uma longa conversa sobre experiências, histórias e desafios das fases de vida.
Depois de começar a estudar mais profundamente sobre biografia humana, o passar dos anos se tornou mais leve, mais significativo e essa passou a ser uma das primeiras perguntas que faço quando quero mergulhar em uma conversa ou iniciar um processo com um cliente.
O estudo biográfico é embasado em leis que regem as fases de vida do ser humano, então perceber em que momento a pessoa está na sua história me faz localizar alguns desafios e oportunidades comuns às pessoas. Importante dizer que há o que é próprio da idade, mas há o que é individual, único.
A natureza pode nos ajudar a entender esse estudo. Na colheita, precisamos ter paciência, pois existe o momento certo do amadurecimento das plantas e dos frutos e, se quisermos acelerar o processo teremos alimentos indigestos. Assim também é importante sabermos aguardar até que as nossas habilidades se desenvolvam. Essa é a chave para vivermos mais intensamente e com presença cada momento.
Você alguma vez já se fez essas perguntas?
“Quais são minhas motivações na vida?”
“Qual é a minha missão?”
“Qual é o meu propósito de vida?”
“Quais são os meus potenciais?”
“Por que, em minha vida, certas situações se repetem?”
“No que sou único?”
O Aconselhamento Biográfico, como é conhecida a profissão aqui no Brasil, ajuda a investigar essas questões acima ao fazer um resgate consciente da própria história de vida. Ao fazermos isso, nos damos conta de que a nossa vida não é apenas uma sucessão aleatória de fatos e sim um processo contínuo de desenvolvimento e transformação.
Essa é a verdadeira beleza no trabalho biográfico, entender que tudo tem o seu tempo e que tudo passa: uma fase difícil, uma questão que parece sem solução, uma crise. Inclusive, as crises podem ser entendidas como impulsos de desenvolvimento em nossas vidas. Nas biografias, conseguimos identificar a força e as transformações que ocorrem após uma crise.
E para que olhamos o passado?
Sabe aquela ideia de que “o que passou, passou, e o passado deve ser enterrado”? Isso não cabe nesse trabalho! Rever o passado serve para nos libertarmos dele e não para ficarmos presos aa ele. Dessa forma, podemos até modificar o futuro, já que nos tornamos mais conscientes do rumo que está tomando a nossa vida. Costumo brincar que o passado também pode ser mudado, já que internamente há uma mudança quando ressignificamos os acontecimentos e os sentimentos, certo?
E como esse passado é revisto?
Uma das leis que rege o desenvolvimento humano ,segundo a Antroposofia, é a dos setênios, que traz a vida dividida em ciclos de 7 anos. Os setênios apresentam momentos claramente distintos, nos quais surgem interesses, perguntas insistentes, desejos e necessidades específicas.
Somos gestados por nossas mães durante 9 meses e então temos 9 setênios para nos autogestar. Depois do 9° setênio, é uma fase de liberdade, tanto interna quanto externa.
Veja, de forma bem resumida, o que é importante em cada setênio:
1° Setênio – 0 a 7 anos – FASE INFANTIL: estruturação do corpo físico.
A vivência de que “o mundo é bom”, nesse começo da vida, é essencial para o desenvolvimento da pessoa, ou seja, de se sentir protegida, de sentir calor nas relações, de se sentir bem cuidada.
2° Setênio – 7 a 14 anos – FASE JUVENIL: base para o amadurecimento psicológico.
Aqui, a vivência de que “o mundo é belo” e é um lugar bonito para se viver torna- se mais importante. Do lugar mais protegido, o mundo é ampliado e uma autoridade amada (um bom professor) pode ajudar nessa transição.
3° Setênio – 14 a 21 anos – FASE ADOLESCENTE: base para o amadurecimento social.
Neste setênio a vivência de que “o mundo é justo”, de que as pessoas fazem o que falam, é fundamental para esse amadurecimento social. É um momento de escolha de profissão e de maior aterramento do ser humano (separação da espiritualidade). Acontece o processo de individuação.
4° Setênio – 21 a 28 anos – FASE EMOTIVA: de muita experimentação e busca por um lugar.
É a fase da maioridade, da necessidade de assumir a responsabilidade por si. As emoções oscilam muito e a questão principal é: “como eu vivencio o mundo?”. Experimentar lugares, trabalhos e relacionamentos, sem se fixar rapidamente, podem ajudar a responder a questão.
5° Setênio – 28 a 35 anos – FASE RACIONAL: desenvolvimento de habilidades organizacionais e a conquista do lugar.
É o momento de tornar-se mestre do próprio destino, e se fixar em um lugar para ganhar maturidade se faz necessário. Surge uma vontade de “ser alguém”, mas importante que seja com respeito aos outros.
6° Setênio – 35 a 42 anos – FASE CONSCIENTE: desenvolvimento de habilidades sociais e a consolidação do lugar.
Fase bem objetiva e de maior interiorização. Desenvolver a autocrítica ajuda a ser mais paciente com os erros alheios. Impor limites é um desafio importante dessa fase. O indivíduo está pronto para assumir funções de liderança.
7° Setênio – 42 a 49 anos – FASE IMAGINATIVA: desenvolvimento de habilidades conceituais e o exercício do altruísmo.
Ao chegar nessa fase em que há um maior desprendimento das forças biológicas, é essencial buscar novos valores de vida e espirituais para que haja uma ampliação da consciência. É a fase da “nova visão”. Os frutos já estão maduros e prontos para serem doados.
8° Setênio – 49 a 56 anos – FASE INSPIRATIVA: visão mais holística e criativa da vida.
Há uma harmonia interna cada vez maior e a importância de equilibrar as solicitações da vida externa e da interna. Encontrar um novo ritmo de vida é primordial. Agora sim chega-se à fase mais altruísta da vida e a passagem da idade ativa para a velhice.
9° Setênio – 56 a 63 anos – FASE INTUITIVA: liberdade no agir e a busca por uma nova missão.
60% das grandes obras universais foram compostas após os 60 anos. É um novo viver, uma boa época para fazer a retrospectiva da vida: “o que consegui realizar e o que ainda gostaria de desenvolver?”.
Além desse olhar para cada setênio, podemos ver a biografia dividida em 3 grandes fases. Há um provérbio chinês que diz que: “Levamos 20 anos para aprender, 20 anos para lutar e 20 anos para nos tornarmos sábio”.
Ao vivermos cada fase com presença e consciência vamos nos preparando melhor para a seguinte. Sem nos apressarmos demais e sem estagnarmos na vida. Que possamos seguir a nossa trajetória e sentir o que une todas as nossas fases. Isso é o que a Antroposofia chama de fio vermelho, aquele fio que nos conduz, que nos torna únicos.
Agora eu quero saber: O que a sua fase da vida conta sobre os seus desafios e oportunidades?
Fonte: Livros “Tomar a vida nas próprias mãos” e “Biográfico” (ambos escritos pela Dra. Gudrun Burkhard).
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