Durante toda a sua vida profissional, o líder passará por várias fases típicas de desenvolvimento similares e relacionadas às fases de desenvolvimento dos indivíduos em suas próprias vidas.
Uma forma para entender como a liderança se manifesta em cada um dos estágios é analisar as questões específicas, as tônicas, os desafios e as correspondentes crises que ocorrem ao longo da jornada em cada um dos períodos de desenvolvimento.
Não existem fórmulas para se evitar as crises, mesmo porque muitas são inevitáveis e necessárias para preparar o líder para o próximo estágio. O conhecimento dos fatos típicos de cada fase pode ajudar o líder a ultrapassar as barreiras com decisão e confiança.
Antes da discussão sobre as diferentes fases, é importante ressaltar que qualquer que seja o período que um líder estiver vivenciando e seu nível de experiência e maturidade, a situação de chegada a uma nova organização ou a um novo grupo deve ser marcada pela prudência por parte do líder.
Os primeiros movimentos são cruciais e importantes para se conhecer o novo ambiente. Em uma organização já existente, as relações já estão estabelecidas e as expectativas de seus membros para com o novo líder nem sempre são realistas ou objetivas. Muitas vezes, o próprio líder não tem noção do que realmente é esperado de sua atuação e das condições que encontrará no grupo.
O novo líder terá de confrontar-se com apreensão e percepções equivocadas, além das necessidades e agendas individuais dos seus liderados. Subestimar a importância dos primeiros movimentos pode ser um convite para um processo de liderança conturbada e com desafios não produtivos nem para o líder, nem para a equipe, nem para a organização.
Contamos como referenciais para as reflexões sobre as fases de desenvolvimento do líder o ensaio The seven ages of the leader de Warren G. Bennis e as leis biográficas dadas pelos estudos de Gudrun Burkhard.
Primeira fase – Prestes a tornar-se líder
Para um jovem profissional que está na iminência de tornar-se um líder, o futuro pode parecer misterioso e assustador. Normalmente, é importante o apoio de um mentor que o ajude na solução dos problemas e que facilite a sua transição.
A visão comum é de que os mentores procuram os jovens líderes para prover orientação e encorajamento. No entanto, uma marca de um líder promissor é a sua habilidade em identificar, persuadir e conquistar o mentor que poderá modificar a sua vida.
Segunda fase – Primeira experiência (Fase emotiva – Imagem do Centauro)
A primeira experiência de liderança na organização é um processo doloroso de educação. Nenhuma outra experiência pode preparar completamente o jovem líder para esta responsabilidade.
O profissional tem de aprender a exercer o seu novo papel em público. É comum que o jovem líder sinta-se como se estivesse em um palco e sujeito à constante avaliação de seus atos e de suas palavras. Tudo pode ser objeto de comentários, julgamentos, críticas e interpretações.
Nada é mais intenso do que a atenção dada às primeiras ações e palavras do novo líder. Estas podem trazer o grupo para o seu lado ou tornar as pessoas contrárias e resistentes a seguirem as suas diretrizes, afetando o desempenho da equipe por muito tempo.
Uma entrada cuidadosa no grupo permite ao novo líder ter tempo para conseguir informações, desenvolver relações, entender a dinâmica organizacional e utilizar-se da sabedoria dos membros do grupo. Permite também ao grupo demonstrar o que sabe e do que é capaz. Pode-se, então, construir uma imagem de que o novo líder está aberto às contribuições dos outros, e que é um líder e não um ditador.
No início, a sobrevivência do novo líder dependerá do apoio de seus seguidores mais experientes, talentosos e confiáveis.
O novo líder depara-se frequentemente com duas realidades:
O principal desafio desta fase é buscar um lugar no mundo e na organização dentro de uma tônica de altos e baixos constantes em sua autopercepção.
Terceira fase – Superação das aflições (Fase racional – Imagem do Cavaleiro)
Para os líderes que se sobressaem na organização, um dos pontos mais difíceis é relacionar-se com antigos pares que se tornaram seus seguidores e definir os novos limites de atuação.
As relações inevitavelmente mudam quando uma pessoa é promovida de dentro de um grupo. O líder, que até pouco tempo trocava confidências com seus antigos pares, não poderá falar tão abertamente sobre todos os assuntos. Os novos seguidores poderão sentir-se embaraçados ou ressentidos com o antigo par.
Conhecer a organização e os seus influenciadores é uma vantagem para o líder no tratamento de uma lista interminável de questões e reivindicações. Conseguir identificar o que realmente é importante ser tratado é crucial.
O líder em sua nova posição pode deparar-se com uma espécie de conspiração inconsciente para preservar a situação atual. Questões e mais questões não resolvidas anteriormente são atiradas no líder para que sejam encaminhadas. De alguma forma, isso pode garantir que o líder só tenha tempo para tratar de problemas, e não para instituir a sua própria agenda para a organização. Nesta fase de liderança, a inabilidade de delegação efetiva pode ser desastrosa.
Outra dificuldade, muitas vezes confrontada pela primeira vez nesta fase, é a demissão de pessoas. É sempre uma tarefa dolorosa, pois geralmente abala a autoestima do profissional que está sendo dispensado e nunca é um momento oportuno. Não há muitas sugestões para guiar o líder nesta situação, apenas lembrá-lo de que ele tem em suas mãos parte da vida de um ser humano e as responsabilidades que isso traz.
O principal desafio desta fase é conquistar um lugar no mundo e na organização dentro de uma tônica de que a razão precisa superar os impulsos em sua atuação.
Quarta fase – Consolidação (Fase consciente – Imagem do Andarilho)
Com o tempo, o líder torna-se confortável com o seu papel. Isto lhe traz confiança e convicção, mas também pode romper sua conexão com seus seguidores. O líder pode esquecer-se do verdadeiro impacto de suas palavras e ações e assumir que o que ele ouve dos seguidores é tudo o que precisa ser escutado.
A avaliação do líder pelos seguidores nunca termina. Esses prestam atenção em cada comentário do líder e podem implementar ideias que não passavam de devaneios. O líder tem como desafio desenvolver os profissionais que tenham potencial para brilhar até mesmo mais que ele próprio. Este é o verdadeiro teste para o caráter de um líder. Muitos não resistem em usar a posição ocupada para impedir a competição.
Em contraste, líderes autênticos são generosos. Eles são humanos e podem sentir certa angústia ao ver algum seguidor realizar algo que eles próprios não conseguem. Porém, eles estão sempre buscando contratar profissionais melhores – quem em certa medida – também serão responsáveis por melhorar seus resultados.
O principal desafio desta fase é consolidar um lugar no mundo e na organização dentro de uma tônica conseguir fazer uma autocrítica profunda e genuína.
Quinta fase – Apogeu (Fase imaginativa – Imagem do Pensador)
Um dos grandes desafios do líder quando ele atinge o topo de sua carreira é não apenas permitir que os profissionais falem a verdade, mas desenvolver a capacidade de realmente ouvir a verdade.
A surdez organizacional do líder está relacionada muitas vezes com a arrogância e com a dificuldade de lidar com as más notícias e confrontações. De forma pouco consciente, o líder pode bloquear o fluxo de informações, inibir as posições contrárias e confundir a aceitação dos seguidores com o silêncio destes. A arrogância pode impedir a construção de alianças que todos os líderes precisam.
Líderes autênticos desenvolvem a disponibilidade constante para ouvir, e os seus egos são suficientemente fortes para enfrentar a verdade, mesmo que desagradável. Fazem isto não porque são santos, mas porque é a forma mais certa de sucesso e de sobrevivência.
Nesta fase, o líder – com muita experiência acumulada – tem de conciliar a condução de grandes mudanças requeridas pela organização com o reflexo de suas ações nas pessoas que a compõem. A hesitação perante esta situação pode ser desastrosa para o líder.
O principal desafio desta fase é lidar com os próprios limites na vida e na organização dentro de uma tônica de conseguir discernir entre o que é essencial e o que é acessório.
Sexta fase – Declínio (Fase inspirativa – Imagem do Mago)
A sexta fase é marcada pelo início do declínio do poder do líder. Ele trabalha muito fortemente para transmitir sua sabedoria e sua experiência de acordo com os interesses e necessidades da organização.
O líder pode ser designado para desempenhar importantes papéis interinos ou de intervenção em momentos de crise, pois possui conhecimentos e habilidades diferenciadas e provavelmente não será distraído pela ambição que caracteriza as fases iniciais da carreira.
O principal desafio desta fase é perceber-se realizado na vida e na organização dentro de uma tônica de abrir mão dos próprios ganhos e desenvolver o altruísmo.
Sétima fase – Renascimento (Fase intuitiva – Imagem do Semeador)
Para o líder que atinge esta fase, a possibilidade de tornar-se mentor de jovens executivos é um dos maiores prazeres. A preparação da nova geração para a liderança é o anseio de muitos líderes.
A relação entre o líder experiente e o novo líder traz benefícios para ambos e para a organização. Para o primeiro, é a garantia de ficar sintonizado com o mundo sempre em mudança; para o segundo, é a possibilidade de perceber o que funciona e o que não.
Quando o líder exerce o papel de mentor, ele sabe que o que desenvolveu não será perdido e que deixa um legado para as futuras gerações.
A capacidade de adaptação é o que faz os verdadeiros líderes tomarem as decisões corretas que trazem o sucesso para suas carreiras. É também a capacidade que permite a alguns líderes transcenderem as dificuldades que vêm com a idade e renascerem dia após dia.
O principal desafio desta fase é encontrar uma nova missão na vida e na organização dentro de uma tônica de independência e harmonia.
Então, podemos refletir:
Matias Klinke
Consultor e coach do EcoSocial
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