Por Marcus Baptista,
coach PCC, consultor organizacional
e aconselhador biográfico.

Lendo diversas matérias sobre as pausas e os ritmos do trabalho, especialmente no último ano, liguei um sinal de alerta para a minha própria rotina. Eu, como coach executivo e de times, passo boa parte do dia em calls, conversando, trocando e juntando uma agenda na outra, sobre assuntos diferentes. Parece que este hábito, que também pode ser seu, não é muito promissor.

As constantes reuniões por vídeo-chamada viraram a marca registrada da pandemia. Uma termina, outra começa… e muitas vezes não temos tempo nem de tomar uma água.

Recentemente, a Microsoft constatou que as intermináveis e constantes calls estão aumentando o nível de estresse e o ruído cerebral. Em um estudo sobre a atividade do cérebro, os pesquisadores confirmaram o que nós já percebemos no dia a dia: reuniões consecutivas são estressantes. E qual seria o remédio para isso?

A pesquisa aponta que pequenas pausas entre uma vídeo-chamada e outra melhoraria a concentração e ainda diminuiria o estresse no final do dia.

“Nossa pesquisa mostra que as pausas são importantes, não apenas para nos deixar menos exaustos ao final do dia, mas para realmente melhorar a capacidade de concentração e envolvimento nas reuniões”, diz Michael Bohan, diretor sênior do grupo de Engenharia de Fatores Humanos da Microsoft, que supervisionou o projeto.

O estudo contou com a participação de 14 pessoas em oito vídeo-chamadas de 30 minutos, divididas em quatro por dia. Em um dia, os participantes tiveram o intervalo de 10 minutos entre elas, e no outro, em um único bloco. O estudo foi realizado por meio de monitoramento cerebral, que dá a ideia geral dos tipos de atividade na massa cinzenta.

Durante o bloco de reuniões sem pausas, as pessoas apresentaram níveis elevados de ondas beta, que são associadas ao estresse, ansiedade e falta de concentração. Houve picos de estresse mais alto que aumentavam lentamente com o passar do tempo. Já no dia com pequenos intervalos entre as reuniões, as leituras de estresse se mantiveram baixas, sem aumento com o passar do tempo.

Como coach executivo, e com a tarefa de conversar com meus clientes sobre assuntos profundos, que exigem entrega, conexão e presença, fico pensando em como estão sendo as demais horas do dia dele. O que veio antes do nosso horário, o que virá depois. Tudo isso influi diretamente na entrega e nas reflexões necessárias que antecedem e sucedem qualquer atividade, especialmente sobre autoconhecimento.

A pesquisa teve três conclusões:

1. Os intervalos entre as reuniões permitem que o cérebro “reinicie” e, reduza o acúmulo de estresse no final do dia.

2. Quando fazemos um intervalo entre uma reunião e outra, nossa produtividade e capacidade de concentração são maiores. Quando os participantes faziam pausas para meditação, os padrões de ondas cerebrais mostravam níveis positivos de assimetria alfa frontal, que se correlaciona com um maior envolvimento durante a reunião. Sem pausas, os níveis foram negativos, sugerindo que os participantes foram retirados ou menos engajados. Isso mostra que, quando o cérebro está sob estresse, é mais difícil manter o foco e o envolvimento. As pausas não são boas apenas para o bem-estar, mas também melhoram a capacidade de fazer o melhor trabalho.

3. A transição entre reuniões pode ser uma fonte de estresse. Para o grupo da pesquisa que participou do bloco de reuniões sem intervalo, os pesquisadores notaram que o período de transição entre as vídeo-chamadas causou um pico nos níveis de estresse dos participantes. Segundo Bohan, isso pode ser porque você está chegando ao final da reunião sabendo que tem outra chegando, e você vai ter que mudar de frequência e usar seu cérebro para pensar muito sobre outra coisa.

Escutei uma frase, de um cara chamado Daniel Pink, no GLF da ICF 2021, que disse o seguinte: “Profissionais tiram breaks, amadores não!” e que quando se deu conta disso, teve que mudar sua vida, pois “fomos todos educados no sentido da maior produtividade e que tempo é dinheiro e não deve ser desperdiçado”.

O antídoto para enfrentar a fadiga é simples: pequenas pausas. Serve para você, para o seu cliente e para os seus colaboradores. Cérebros com ritmos mais saudáveis são também mais eficientes.


(Fontes: Research Proves Your Brain Needs Breaks – Microsoft Worklab e This is your brain on Zoom – TechCrunch)



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