Não restam dúvidas sobre as profundas mudanças econômicas, sociais, ambientais e culturais que vivemos, e que nos confrontam diariamente com desafios de uma nova ordem de magnitude. Desafios com potencial para níveis profundos de inovação, mas ao mesmo tempo para a possibilidade de grandes rupturas e crises.
 
Se vamos para um lado ou para outro dependerá de nossa capacidade de escutar e dialogar – que costumo chamar de “superpoderes humanos”.
 
Neste contexto, em meu trabalho como coach, consultora e facilitadora, encontrei na Teoria U um método prático e ferramental para apoiar indivíduos, grupos e organizações a conduzirem processos de transformação e inovação profunda a partir de habilidades como o autoconhecimento, a escuta profunda, a observação precisa, e o diálogo autêntico e assertivo.
 
E, cada vez, mais tenho constatado que este é o ponto de partida primordial para uma ação humana compatível com os desafios do nosso tempo, que exigem de nós confiança no futuro que emerge.
 
Quando explico a Teoria U em poucas palavras, defino uma jornada de inovação e conexão com o chamado do futuro, que pressupõe um trabalho prévio de autoconhecimento. Inovação autêntica!
 
Como colocado por Bill O’Brien, ex-CEO da Hanover Seguros: “O sucesso de uma intervenção depende do estado interior do líder.” É comum agirmos no automático, sem nos darmos conta desta correlação, o que no nível individual e coletivo pode resultar em um dos principais pontos cegos que impedem processos de transformação profundos, coerentes e genuinamente inovadores – o que também pode explicar por que há tanto tempo criamos coletivamente resultados que individualmente não desejamos.
 
Uma vez que nossa ação passa a resultar de um processo de reflexão e autoconsciência, estaremos aptos a quebrar este círculo vicioso.
 
A Teoria U é uma abordagem que mescla pensamento sistêmico, inovação e processos de mudanças profundas, a partir de uma perspectiva de evolução da consciência humana. Ela foi idealizada como método dentro da tradição da pesquisa-ação e aprender fazendo do MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), e há mais de 20 anos vem evoluindo e sendo refinada através da experimentação em diferentes contextos e sistemas sociais, se constituindo hoje como uma comunidade global, com aplicações práticas do nível individual ao sistêmico.
 
A forma do U proposta por Otto Scharmer e equipe, que lideram o movimento globalmente, se inspira em referências anteriores que coincidem com nossa base filosófica no EcoSocial, a Antroposofia. E não por acaso o U está presente em vários de nossos programas e serviços como um princípio organizador.
 
No início do século XX, Rudolf Steiner introduziu o U como um caminho de evolução, transformação e inovação. Inspirado por este modelo de pensamento, Friedrich Glasl propõe um modelo em U para descrever o processo de desenvolvimento e resolução de conflitos organizacionais, levando a ideia para o mundo das organizações.
 
Uma outra forma de entender o U é enxergá-lo como um percurso que integra o passado, o presente e o futuro. Descer o U é compreender nosso percurso e aprender com o passado. Estar no fundo do U, o ponto de inflexão, é viver no presente, desapegando do que se foi e se abrindo para o que está por vir. É silenciar, se conectar com o futuro que emerge, sustentar o lugar do não saber com reverência e confiança.
 
Até que nos percebemos sabendo o que deve ser feito, e subimos o U colocando novas ideias em pra?tica – sem perder a conexão com a intenção. E, então, inovaremos de forma autêntica, com curiosidade, compaixão e coragem.

Mônica Barroso
Coach executiva, consultora associada e facilitadora do programa Autoliderança e Propósito do EcoSocial.

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